Honestamente, não sei dizer-te o que mais gosto em ti...
Como limitar o que, de si, é ilimitado?
Como dividir o indivisível, em ti, personificação de que o todo é, efectivamente, superior à soma das suas partes?
Como te atreves sequer a pedir-me que tente?
Como? Se há dias em que o doce cheiro dos teus cabelos me embala o sono e dias há em que são os teus lábios que me devolvem à vida? Como dissociar a tua pele do toque suave das tuas mãos e do abraço selvagem das tuas coxas?
Como explicar-te que, se há dias em que o teu rosto me apaixona, outros há em que essa paixão sucumbe à força impiedosa do desejo, quando adivinho os contornos do teu corpo em contra luz e a minha vontade contra a parede da sala, separadas apenas por uma fina camada de ti?
Não, honestamente, não sei dizer-te o que mais gosto em ti!
Sei, seguramente, do que não gosto.
De ti. Dessa perfeição intangível que insistes manter, exclusivamente, no hemisfério esquerdo da minha imaginação...
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As coisas que amamos
ResponderEliminaras pessoas que amamos
são eternas até certo ponto.
Duram o infinito variável
no limite de nosso poder
de respirar a eternidade
Pensá-las é pensar que não acabam nunca,
dar-lhes moldura de granito.
De outra maneira se tornam absoluta
numa outra (maior) realidade.
Começam a esmaecer quando nos cansamos,
e todos nos cansamos, por um outro itinerário,
de aspirar a resina do eterno.
Já não pretendemos que sejam imperecíveis.
Restituímos cada ser e coisa à condição precária
rebaixamos o amor ao estado de utilidade.
Do sonho eterno fica esse gozo acre
na boca ou na mente, sei lá, talvez no ar"
Carlos Drummond de Andrade