quinta-feira, 13 de maio de 2010

Razões

Honestamente, não sei dizer-te o que mais gosto em ti...

Como limitar o que, de si, é ilimitado?
Como dividir o indivisível, em ti, personificação de que o todo é, efectivamente, superior à soma das suas partes?
Como te atreves sequer a pedir-me que tente?

Como? Se há dias em que o doce cheiro dos teus cabelos me embala o sono e dias há em que são os teus lábios que me devolvem à vida? Como dissociar a tua pele do toque suave das tuas mãos e do abraço selvagem das tuas coxas?

Como explicar-te que, se há dias em que o teu rosto me apaixona, outros há em que essa paixão sucumbe à força impiedosa do desejo, quando adivinho os contornos do teu corpo em contra luz e a minha vontade contra a parede da sala, separadas apenas por uma fina camada de ti?

Não, honestamente, não sei dizer-te o que mais gosto em ti!

Sei, seguramente, do que não gosto.
De ti. Dessa perfeição intangível que insistes manter, exclusivamente, no hemisfério esquerdo da minha imaginação...

1 comentário:

  1. As coisas que amamos
    as pessoas que amamos
    são eternas até certo ponto.
    Duram o infinito variável
    no limite de nosso poder
    de respirar a eternidade
    Pensá-las é pensar que não acabam nunca,
    dar-lhes moldura de granito.
    De outra maneira se tornam absoluta
    numa outra (maior) realidade.
    Começam a esmaecer quando nos cansamos,
    e todos nos cansamos, por um outro itinerário,
    de aspirar a resina do eterno.
    Já não pretendemos que sejam imperecíveis.
    Restituímos cada ser e coisa à condição precária
    rebaixamos o amor ao estado de utilidade.
    Do sonho eterno fica esse gozo acre
    na boca ou na mente, sei lá, talvez no ar"
    Carlos Drummond de Andrade

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