sábado, 20 de fevereiro de 2010

Silêncio

Para ti, porque recordar é viver:

Eu amo o silêncio.
Desculpa, deixa-me ser mais preciso... eu amo o TEU silêncio.

Amo o conforto do teu silêncio. Amo a segurança que me transmite e que assenta na futilidade das palavras e na força do olhar. É bom saber que me entendes, ainda que nada te diga. E é bom saber que me respeitas e me respondes, sublimemente, com esse silêncio que eu tanto amo.

É bom gozar o silêncio e deixar-me embalar pelas histórias que me conta o bater cadenciado do teu coração. É bom descansar a minha cabeça no teu peito e, em silêncio, ouvir tudo o que tens para me dizer. E agradecer-te em silêncio.

Eu amo o silêncio que magnifica sentidos. Amo o silêncio que cheira a essência de rosmaninho. Amo o silêncio que me permite olhar o passado, tocar o futuro e saborear o presente. Sem distorção, sem ruído. Só silêncio.

O silêncio é a forma de expressão mais pura. Não é fácil expressarmo-nos pelo silêncio. Não é fácil não nos sentirmos tentados a rasgá-lo com palavras vãs e a manchá-lo com frivolidades.

Não é, de todo, comum o teu silêncio...

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Procura

Tropeço na linha invisível que me delimita a realidade e deixo-me cair livremente no mundo de fantasia em que me procuro. As nuvens e as árvores cor-de-rosa escondem o sol azul-turquesa. À minha frente, por entre as sombras de uma lua alaranjada, Alice e a Dama de Copas saltam à corda. Ao fundo, muito lá ao fundo, um pouco além da minha imaginação, as minhas memórias, os meus sonhos, a minha vida. Ali, mesmo ali, um tudo nada à esquerda de onde nunca os guardei.

Chamo-me, com a voz rouca que ecoa no silêncio que me responde. Não espero outra resposta que não o som arrítmico dos meus passos lentos e cansados. Ainda assim, tento ouvir-me. Ainda assim, chamo por mim.
Não me ouço. Não me admiro.

A noite beija-me a pele com o prazer solitário da eternidade. Uma gota de chuva, uma única gota de chuva, desprende-se do meu rosto e pinta o chão em tons de vermelho-fogo. Procuro, no contraste das cores vivas, uma pista que me leve até mim. Nada encontro, para além de uma nova linha, esta visível, que demarca os contornos da realidade.

Transponho-a e deixo-me cair na cama, subjugado pelo cansaço.
Hoje vou dormir. Talvez amanhã me encontre...