quarta-feira, 25 de maio de 2011

Imóvel

Escalo a parede das memórias com uma destreza inusitada, na ânsia de me afastar de mim. Percorro, com o olhar apressado, cada espaço vazio onde outrora viveram momentos emoldurados. Perscruto em silêncio cada recanto da sala, em busca de um conforto esquecido. De relance, espreito a cozinha, onde as minhas sombras se amontoam num festim de segredos inanimados. Ao fundo, no quarto, acumulam-se palavras e gestos retraídos, escudados pela ausência de luz. Atropelo-me pelo estreito corredor despido, na vontade não de chegar, mas de sair. A velha porta, empenada e bafienta, jaz agora, escancarada, à minha frente.

E eu, ainda aqui...