Vi-te chegar ainda antes de te ver.
Vi o eco dos teus passos desajeitados no silêncio da tarde e vi o doce aroma do teu perfume, que emanava já de mim. Vi-te, ainda a esquina não se tinha dobrado para ti.
Só podias ser tu.
Pelos olhares de desdém e os "havias de me ver com menos dez anos", que se soltavam à tua passagem. Pelas cabeças viradas, as cotoveladas apressadas e os "olha-me aquela", que se erguiam uns decibéis acima do desejado. Pelos "quando crescer quero ser assim" que se adivinhavam no pensamento das meninas que paravam agora de brincar no jardim.
Sim, só podias ser tu. Não precisei sequer de ouvir o som das travagens tardias ou os piropos foleiros, gritados do 5º piso daquele prédio em construção. Eras tu.
E eu, sozinho, naquele banco, a ver-me ver-te chegar.
Fiquei a observar-te de longe, com o teu vestido azul, que julgavas agradar-me. Tão doce era o teu sorriso quando o vestias, que nunca tive coragem de te dizer que o detestava. Gostava-te, porém.
Amava-te, até.
Vi ainda como te dobravas para apertar as sandálias, com a pose blasé de que te orgulhavas, indiferente ao impacto que a visão das tuas pernas, perfeitamente torneadas, pudesse causar nos transeuntes.
Meu Deus, como és bonita!
E eu, maltrapilho, triste farrapo de mim.
Como podia eu querer que me amasses?
Como pude eu crer que me amasses?
Aproximei-me de ti, lentamente. Não permitias tu que fosse de outra forma.
Sempre adorei esse teu jeito de sugestionar o tempo e envolver o mundo todo no teu pequeno carrossel em câmara lenta.
Beijei-te a boca, não tão demoradamente quanto gostava, mas na justa medida da nula resistência que te tinha. Sabias, hoje, ao que sempre soubeste e deixaste-me nos lábios um doce travo a primeira vez.
Foi então que ganhei coragem.
Tirei a mão do bolso, que encostei à tua testa enquanto te sussurrava um "Amo-te", quase inaudível.
As minhas palavras tiveram em ti o efeito de uma bala e caíste inanimada a meus pés.
Tal como sempre receei que fizesses, desapareceste, num segundo, da minha vida.
De repente, sem lembrete ou aviso sonoro, o mundo regressa à sua velocidade inebriante, que tudo consome e nada poupa. Olho para o relógio. "Merda! Estou atrasado para a minha consulta no dentista."
Adeus, meu Amor.
Beijo-te numa outra vida...
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Amar, amar, amar siempre y con todo
ResponderEliminarEl ser y con la tierra y con el cielo,
Con todo lo claro del sol y lo obscuro del lodo.
Amar por toda a ciencia y amar por todo anbelo.
Y cuando la montaña de la vida
Nos sea dura y larga y alta y llena de abismos,
Amar la immensidad, que es de amar encendida,
y arder en la fusión de
nuestros pechos mismos.
Rúben Dario