segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Fantoche

Hoje acordei com vontade de te beijar.
Senti o calor dos primeiros raios da manhã tocar-me o rosto ao de leve, tão de leve que pensei que fosses tu. Não. Era só o sol a despertar-me, como tu o ensinaste. Ainda assim, parecias-me tu.

Voltei-me para te beijar, para te mostrar à força de lábios o desejo que já não consigo esconder na pele. Quis beijar-te a boca e aninhar-me em ti, inebriado pelo teu cheiro. O teu. Só teu, sem aditivos ou corantes artificiais.
Voltei-me para te beijar e não te encontrei...

Provavelmente saíste mais cedo. Concerteza terias alguma reunião. Seguramente, ontem, no auge da antecipação, naquele segundo em que revês mentalmente todos os passos que ainda não deste e fazes aquelas covinhas no rosto que me dão vontade de te trincar, ter-te-ás esquecido de me avisar.
Honestamente, admiro a forma como tentas equilibrar a tua carreira e a tua vida pessoal. Tens sempre tanto para fazer...

Entro no chuveiro e deixo a água correr livremente pelo meu corpo, como se das tuas mão se tratasse. De olhos fechados, sinto o toque quente da tua língua percorrer-me o pescoço, o peito, todo o meu corpo. Ainda de olhos fechados, não consigo deixar de te tentar agarrar, enquanto escorregas por entre os meus dedos.
Abro os olhos e, juro, vejo-te ainda fugir pelo ralo da banheira...

Enfrento agora mais um dia sem ti, com horas que conto intermináveis e minutos que, cruel e irremediavelmente, adensam a saudade que te sinto. Arrasto-me até ao trabalho, sem resistir ao ímpeto de baixar a capota do carro e deixar que o teu sol me beije mais uma vez.
Sorrio, como sempre acontece no meu dia, com a memória de ti...

O regresso a casa é sempre complicado. A tua proximidade premente torna os minutos ainda mais longos e as filas de trânsito ainda mais insuportáveis. Debato-me nervosamente com os metros que me separam de ti, enquanto estes se transformam em quilómetros, com um evidente desrespeito pelas mais básicas regras do Sistema Métrico Internacional.

Entro em casa e largo apressadamente tudo que carrego no chão do hall, na ânsia de te ver, de te beijar. Corro para a cozinha, onde te encontras, onde finalmente te encontro. Agarro-te pela cintura e afogo-me nos teus cabelos enquanto te viro para mim.
- Pára - respondes-me. Não vês que estou a fazer o jantar? E vê lá se arrumas as coisas que deixaste espalhadas pelo chão da casa. Julgas que sou tua criada??

E eu, como sempre, obedeço-te. E arrumo.
Arrumo o casaco no armário do hall, descalço os sapatos e calço os chinelos que sempre me pedes, "para não sujar a casa". Arrumo o portátil no armário do escritório, na porta da direita, entre os meus livros e as tuas revistas, perfeitamente ordenadas. O embrulho, com o vestido novo que comprei para te dar, na hora de almoço de que abdiquei por não conseguir comer longe de ti, arrumo delicadamente em cima da cama. Pode ser que, desta vez, aprecies a surpresa.
E arrumo o meu amor na prateleira, ali, mesmo à mão, à espera de um bocadinho do teu...

Mas Amor, sabes meu amor, era só um pouco do que eu tinha para te dar?!?

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