Dispo-me dos rótulos com que me vestiste e caminho de encontro a mim. Sorrio-me, de longe. Quase não me reconheço. Ainda bem.
A noite serve-se agora numa bandeja, por entre os Martinis e as azeitonas. Um doce cheiro a jasmim recorda-me que me esqueci de algo. Talvez mais um gole me avive a memória. Ou talvez não, que interessa?
Observo, nada discretamente, o jogo de sombras que pintam agora as paredes, onde os graffitis se escondem. O cheiro a erva queimada invade-me as narinas e disputa a minha atenção com as solicitações que escuto em pano de fundo, não tão fundo quanto gostaria: "Quanto levas?"
O que me recorda: tenho que mudar de casa. A ver se amanhã me lembro...
Umas horas mais tarde e os sons parecem apagar-se, ali, naquela esquina, mesmo junto ao passeio. O vazio é agora preenchido pelo riso das crianças, atravancado pelo choro dos pais. Irrita-me sempre esta hora, em que o sol teima em ofuscar-me. Ainda sem te conseguir ver, ouço já os teus passos decididos, que se aproximam.
"Outra vez à janela? Que mania... és cá um coscuvilheiro!" - dizes-me.
Levanto-me e sorrio-te. Aproximo-me para te beijar.
E beijo-te, precisamente ao mesmo tempo que te cravo a faca da cozinha em cheio no abdómen.
Eu avisei-te que não gostava de rótulos!
Agora, por favor, sai-me da frente da janela...
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