Recordo-me vagamente de ver o meu reflexo no espelho, antes de o dia se apagar.
Recordo-me dos contornos difusos do meu rosto, distorcidos pela luz que me ilumina as costas. Recordo, de olhar turvo, como o pensamento se lhe seguiu e a noite se desmultiplicou em explicações inverosímeis e desculpas desnecessárias. Era tarde. Bastava.
Recordo, na crueldade implacável do espelho, de ver o tempo mirrar em mim e um nada gigantesco a crescer, na imagem estranha de um reflexo que não distingo. Recordo ainda a sombra das mãos que me acariciam o cabelo e o eco das palavras que me embalam em surdina. Recordo-te vagamente.
Quero responder-te, mas o teu reflexo foge e vai ganhando vida, à medida que os meus olhos se fecham em redor do meu silêncio. Ainda não é hoje que te respondo. Ainda não é hoje que o cansaço se dá por vencido. Hoje, simplesmente, adormeço.
Espero, amanhã, ver no meu o teu reflexo...
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