"Foi inevitável", disseste-me tu, com um brilho doce nos olhos. Usavas aquele sorriso de quem pede desculpa por ter partido o pote das guloseimas e tenta esconder a ausência de arrependimento.
Da mesma forma e, inevitavelmente, o pote estava partido.
"Papá, foi sem querer. Por favor, não fiques chateado comigo. Vais deixar de gostar de mim?"
As tuas mãos ternurentas procuram o meu pescoço e as tuas pernas o meu colo. Sabes como me desarmar. Olhas-me nos olhos, como que a tentar ler a minha reacção, como que a tentar ver através deles e olhar no fundo do meu coração.
"Não, filha. Sabes que o Papá nunca irá deixar de gostar de ti", respondo-te.
Os teus olhos animam-se, as tuas mãos contraem-se à volta do meu pescoço e saltas do meu colo com o olhar de felicidade de quem se prepara para ir brincar.
Antes que saias da sala a correr, tenho ainda tempo para te dizer, numa voz aparentemente calma: "Mas, Luísa, esta semana estás de castigo."
Como resposta à perplexidade que leio nos teu olhos, acrescento apenas:
"Sabes, filha? Todas as acções têm reacções. E isso... é inevitável!"
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Poema é dor, é amor, é guerra
ResponderEliminaré ar, é água, é terra
é gestação, é parto, é vida
é mentira ,é verdade ,é perspectiva
é som, é cor ,é escultura
é lucidez ,visão ,ou loucura
é comunicação ,introspecção, mal-entendido,
é ,acima de tudo, mesmo não lido,
Inevitável
Realidade
Indefinível.