terça-feira, 17 de março de 2009

Embriaguez

- Chegámos.
O som mal se distingue, longínquo, distante.
- Psst, chegámos.
Agora mais perto, a voz não me é familiar. Começo lentamente a despertar. Abro os olhos, apenas para os voltar a fechar em poucos segundos.
- Psst. Desculpe. Chegámos!
A voz é agora mais forte. O tom, levemente irritado, sugere-me que este é um bom momento para acordar.
- Quanto é? - pergunto.
- Onze e oitenta - alguém me responde.
- Obrigado. Pode ficar assim.

Saio do taxi para a noite gélida que me sufoca e olho à minha volta.
Era suposto não reconhecer o local, mas tudo me parece estranhamente familar. As luzes, os odores, as ruas, os sinais. Tudo me recorda de ti.
Procuro, em vão, os meus cigarros. Sorrio. Quase me esquecia que deixei de fumar. "Fumar mata", uma frase tão simples, que convence. Convenceu-me.

Arrisco. Começo a caminhar na tua direcção sem saber onde estás, sem saber como ou por onde ir. Deixo-me guiar pelo instinto, na esperança que as memórias destas ruas que nunca pisei, me vão mostrando o caminho.
Está escuro. Nada vejo, para além das marcas dos meus próprios passos, que vou deixando e decorando, não vá eu precisar de voltar.

É este o momento em que anseio que apareças, a galope no teu cavalo, tal princesa, tal personagem de conto de fadas. Invariavelmente, nesta noite, como em todas as anteriores, não apareces.
E o meu conto de fadas esfuma-se em tons de realidade, no preciso momento em que que gritam, do carro que quase me atropela: "Sai do meio da estrada, ó palhaço!!"

E saio. Cambaleio a subir o passeio, tropeço a subir as escadas e acabo por cair à entrada de uma porta, uma porta igual às outras. Experimento uma chave, outra e outra, sem sucesso. Em desespero, experimento o puxador, a porta está aberta, como que à espera de me receber. Entro.
Procuro-te, como faço todas as noites. E, como em todas as outras noites, tu não estás. Provavelmente, saíste para comprar cigarros...

Mais uma noite. Mais uma horrível dor de cabeça.
Nada que um Xanax e dois tragos de Whisky não resolvam.
Hoje, talvez durma descansado.
Quem sabe, sonho contigo? Quem sabe, talvez tenha um pesadelo?

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