quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

CONTRAMÃO: Capítulo VII

Sento-me no autocarro a céu aberto, que partilho com 3 japoneses, 6 máquinas fotográficas, 4 ingleses e 8 packs de cerveja. Procuro o meu lugar e encosto-me, a contemplar a noite.

Gosto de passear pela cidade nesta altura do ano. Gosto da forma como as iluminações de Natal se confundem com as estrelas e te desenham na noite. Gosto. Ajuda-me a pensar.
Tanta coisa se passou nos últimos dias que tenho que meter a cabeça em ordem. Preciso de pensar. Pena que os flashes dos japoneses e os cânticos dos ingleses não ajudem.
Porque vêm para cá, estragar a minha cidade? - pergunto-me.
A merda das máquinas não funciona no Japão? Não há cerveja em Manchester?

Sinto a primeira gota de chuva cair-me na testa. Afinal, talvez possa haver sossego.
Rapidamente os japoneses se apressam a proteger as suas preciosas máquinas e se refugiam no andar de baixo. Os ingleses demoram alguns minutos a aperceber-se que está a chover e poucos segundos a carregar os packs de cerveja. As latas vazias, essas, ficam a fazer-me companhia...

Mantenho os olhos fechados enquanto as gotas me invadem o rosto e se fundem comigo. Sinto o seu toque gelado a percorrer-me lentamente, enquanto se me arrepiam todos os sentidos. É bom sentir-te na chuva. É bom sentir-me à chuva.
Tudo é, aqui, mais claro. As respostas desenham-se no céu em forma de luz e são-me entregues em forma de água. E eu preciso muito de respostas...

Passo a hora seguinte em absoluto silêncio, perdido, algures, a meio caminho entre o aqui e um qualquer aí.
Um chiar estridente de travões, acompanhado por um grito imperceptível, trazem-me de volta. Já parou de chover...

- Merry Christmas!! - grita um dos ingleses.
- Vai tu - respondo, delicadamente, com um sorriso.

Pego no telefone e começo a marcar o teu número...

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