Brinco-te com a ponta dos dedos.
Enrolo-te repetidamente entre o polegar e o indicador. Aperto-te contra a palma da minha mão, para não te deixar cair, para não te perder, de tão preciosa que me é a ilusão da tua posse.
Procuro-me na tua esfera perfeita, onde aprisionas a mais crua das verdades. A tua. Não me encontro, não me espanto. Não há em ti lugar para nada mais que a tua chama azul-esverdeada, a par dos reflexos com que decides brindar-me enquanto insisto em polir-te com o calor húmido da minha expiração.
Sinto agora o teu peso na minha mão e equilibro-te no polegar enquanto antecipo, de olhos cerrados, a derradeira das jogadas. Imagino-te um xeque-mate em versão rolante, com direito a aplausos, foguetes e serpentinas. Tudo a que tens direito. Ou quase tudo...
Mas não, hoje não.
Hoje não me apetece atirar-te para longe, onde teimosamente te deixas ficar, à espera que eu regresse a ti.
Hoje não. Isso cansa.
Não. Estou farto deste jogo.
Guardo-te no meu bolso direito, juntamente com os outros berlindes, a pastilha elástica semi-usada, os dois clipes e os cromos repetidos.
Afinal, acho que vou jogar às cartas...
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Por precaução, melhor jogar cartas que ao berlinde?
ResponderEliminarAs cartas não são seguras como podem parecer.
Sobem e descem, têm cores, formas e rostos.
São roda da sorte escondida em rectangulos.
Nas mãos certas, ditam sortes e desaires, lançam fortunas e lançam infortunios.
Apenas não rebolam para longe...
Pego nas cartas e sorrio, ante a expectativa de um novo jogo. Sempre novo, perpetuamente diferente, eternamente apaixonante.
ResponderEliminarOrdeno metodicamente as cartas, na implacável hierarquia que as próprias me impõem. Aqui, tudo tem o seu lugar.
Antecipo jogadas em que sou eu quem dita a lei do mais forte. O desfecho, esse, são invariavelmente as cartas que o ditam.
Sim. Dificilmente me canso de jogar às cartas...
Pergunto-me... que vês nisto de precaução?
Às cartas pode sair-nos a sorte grande.
Duvido que possas dizer o mesmo do berlinde...
Ainda assim, amanhã vou jogar Xadrez. Perdes comigo??
hummmm....(dedo no nariz)
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