segunda-feira, 6 de julho de 2009

CONTRAMÃO: Capítulo II

Quase vinte e três horas a acumular calor só podia dar nisto: uma das noites mais quentes do ano. O termómetro de rua marcava agora uns modestos vinte e oito graus. Nada que se comparasse com os trinta e seis de horas antes. À sombra dos candeeiros semi-ligados caminhavam desconhecidos a esforçarem-se por não o serem.

Do alto da sua árvore, com plena vista sobre o terceiro andar do número dezassete, um mocho observava a cena.
Uma mulher, na casa dos vinte, alta e atraente, abria a porta a um cavalheiro mais velho. Ultrapassada a cerimónia do beijo e a aparente normalidade em ser-se recebido por uma mulher em lingerie, o casal levou a conversa para o sofá. E a conversa deve ter sido bem agradável, pois ao fim de alguns minutos eram já as línguas que se falavam, os corpos que se tocavam e as vontades que se enlaçavam.

Meia hora mais tarde, adivinham-se juras de amor nas palavras levemente sussurradas ao ouvido e nos beijos que agora vestem o pescoço. Mesmo à distância, parece conseguir ouvir-se um “para sempre”.

Não era ainda meia-noite e já o corpo da mulher repousava, inerte, no chão da sala. Não era ainda meia-noite e já a porta do apartamento se fechava. Era já meia-noite e o homem caminhava, anónimo, por entre os desconhecidos que se imitavam.
Meia-noite e dois. O termómetro marcava ainda vinte e oito graus.

1 comentário:

  1. Não digas que tens, com o calor, o mesmo problema que eu tenho.

    Aiii......

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