Atropelam-se-me, na pele, os pensamentos,
Amontoam-se-me, nos olhos, as verdades
E o tempo, na eternidade dos momentos,
Insiste em me mostrar cumplicidades.
Irrompo pelas encruzilhadas do que sou,
E perco-me, sem sentidos, sem sentido,
Nas margens de um rio que amanhã secou
E hoje, em seu leito, me traz escondido.
Deixo-me vencer por um imenso cansaço,
Por esta fome desvairada de querer,
Pela ausência que encontro no meu espaço.
E à noite, quando me deito, já sem me ver,
Reuno toda a vontade num só traço
E, em mim, desenho a vida que hei-de viver!...
Desenho vales e rios em tons de verde,
De azul, o céu e o mar que me espera.
Desenho as folhas que o Outono perde
E as flores com que lhe ganha a Primavera.
Pinto o cheiro de rosas no Verão
E, no céu, um candeeiro de luar.
Pinto o mundo com o branco de um nevão
e de Inverno enfeito todo o ar.
Pinto a minha vida de mil cores,
Dou-lhe cheiros, gestos e sabores,
Dou-lhe o tempo isolado do seu fim.
No final, ao contemplar o meu desenho,
Percebo que no meu, o teu engenho,
Me pintou uma vida igual a mim!...
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