quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Tempo

Encolho-me no tempo que passa, na esperança de que não me note. Encubro-me na sombra das suas horas e abandono-me aos seus desígnios, num estranho jogo de apanha-esconde. Eu, ali, parado. O tempo, algures, atrás de mim. Ambos fugimos.

Aninho-me no conforto de um silêncio encenado e sustenho a respiração. Até ficar azul. Até que todas as cores me abandonem e eu me confunda com o branco da parede que me abriga. Talvez assim lhe escape. Talvez, desta, passe por mim. Talvez.

Deixo-me cair, vencido pelo ar que me falta e sorvo, em lufadas ofegantes, o pouco tempo que ainda me resta. Sinto-o a observar-me, pausadamente, sem pressas, com todo o tempo do mundo. O seu. O meu. O nosso.

Eis que se agiganta perante mim um bicho horrendo, de sete cabeças, vinte e quatro braços e sessenta olhos colados em mim. Sorri-me, docemente.

- Apanhei-te. É a tua vez!
- Desisto. Ganhas sempre...

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